A primeira confraria de vinhos do Brasil
fundada em 1980


O VINHO DO MÊS: CHÂTEAU LE PUY 2006

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LIBOURNAIS
Situada à margem D do rio Dordogne encontra-se uma extensa área de aproximadamente 13.000ha marcada por uma personalidade própria com relação aos seus vinhos quer por suas características intrínsecas como pela predominância da cepa Merlot em seus cortes já que se adapta melhor ao seu “terroir” do que a Cabernet Sauvignon, ao contrário do que acontece na região do Medoc. Seu epicentro geográfico se situa na cidade LIBOURNE, sua grande e reconhecida capital Nessa grande área se destacam com muita propriedade importantes AOC de Bordeaux. A vitivinicultura dessa região remonta à época dos romanos, da qual restam numerosos e nobres vestígios através de celebradas construções que representam verdadeiros monumentos. Já o poeta Ausone no século IV cantava em versos a qualidade do vinho da região, mas foi somente muito mais tarde que a bebida veio alcançar plena glória tendo como baluarte a cepa Merlot seguida pela Cabernet Franc, conhecida por Bouchet pelos habitantes locais.
UMA HISTÓRIA SOBRE FAMA E “TERROIR” – CÔTES DE FRANC
Situada ao nordeste do Libournais ocupa 420ha de vinhedos cultivando de maneira particular as cepas Merlot, Cabernet, Sauvignon Blanc e Muscadelle. São duas as suas principais comunas: Saint-Cibard e Tayac. Seus vinhos tintos são ricos e possantes além de brancos também estruturados capazes de envelhecer com dignidade. Não possui a fama de seus vizinhos de Saint-Emilion e Pomerol, tampouco das regiões às margens do rio Garonne e margem esquerda do Gironde, como Medoc, Graves, Pessac-Léognan, etc, baluartes de Bordeaux, mas oferecem a oportunidade de se encontrar exemplares singulares e que correspondem ao que se pode encontrar no título dedicado a grandes vinhos franceses.
UMA HISTÓRIA SOBRE UMA FAMÍLIA DE PRODUTORES – CHÂTEAU LE PUY
O Château Le Puy pertence à família Amoreau desde 1610 tendo, no entanto, sofrido importante reconstrução no século XIX por Barthélemy, bisavô do atual condutor Jean Pierre, pertencente a atual 15ª geração, sempre de pai para filho homem, embora prestem justa homenagem a duas mulheres da família com dois vinhos brancos, Marie-Cecile (Semillon) e Marie-Elisa, vinho doce. No trabalho da vinícola não participam enólogos externos, somente o trabalho familiar conduzido por uma rigorosa doutrina familiar acumulada de geração em geração, elaborando vinhos a partir de 25 hectares de vinhedo. A fermentação é somente realizada por leveduras naturais e o estágio em madeira geralmente observa cerca de 24 meses, intercalando “foudres” de 5 mil litros e barricas bordalesas de 225 litros, nunca empregando carvalho novo, somente após 3 a 15 anos. Segundo Jean Pierre vinho em barrica nova é vinho aromatizado. Não se cogita de utilizar qualquer tipo de filtração. Ele costuma classificar seus vinhos como “de exceção”, isto é, que possuem o gosto real da uva, que traduzem verdadeiramente a natureza.
VINHO ORGÂNICO E BIODINÂMICO
Conceitua-se como vinho orgânico aquele que é produzido sem o uso de produtos químicos como agrotóxicos pesticidas, herbicidas e fertilizantes sintéticos, substituídos por compostos orgânicos e animais que se nutrem de insetos e pragas. Na vinificação fica abolida qualquer ação artificial como uso de leveduras de laboratório, micro-oxigenação, etc. O objetivo é produzir uma bebida saudável, mantendo a biodiversidade do ambiente.
Rudolf Steiner (1861-1925), filósofo e estudioso foi o criador dos princípios básicos da biodinâmica, ciência segundo a qual há um equilíbrio natural entre os reinos mineral, vegetal e animal na terra que não deve ser alterado por ações deletérias do homem. No tocante à atividade no campo qualquer atitude deve observar o ciclo natural do cosmo sob a influência dos movimentos dos astros, sobretudo da lua e do sol visando à proteção da biodiversidade. No Château Le Puy a produção do vinho obedece a esses princípios desde o plantio à vinificação obedecendo cada ato a essa movimentação astral além da observância aos princípios que dão origem ao vinho orgânico, traduzindo obediência ao que se denomina cultura biológica e biodinâmica.
UMA HISTÓRIA CURIOSA
Na noite de 10 de março de 2009, um dos canais de televisão do Japão transmitiu um programa baseado numa série de HD, histórias em quadrinhos conhecida por “mangá” caracterizada por desenhos modernos e muito bem feita e de grande repercussão no país. Nessa oportunidade o “mangá” contava a história de um famoso crítico de vinhos japonês possuidor de riquíssima adega com os mais expressivos exemplares do mundo do vinho colecionados durante toda a vida. Tendo dois filhos, determinou em testamento que a extraordinária adega seria herdada pelo filho que através de enigmas conseguisse identificar os doze melhores da coleção comparados por ele aos doze apóstolos de Cristo. Além disso, restava identificar um 13º exemplar como sendo o melhor de toda a coleção que ele definiu como “As Gotas de Deus” que serviu de título do “mangá” e do programa de televisão. Ao final do programa o nome do vinho foi revelado e era justamente o Château Le Puy 2003.
No dia seguinte a pequena vinícola de Côtes de Franc foi inundada por um volume de pedidos do vinho tão grande, principalmente do Japão que intrigou Jean-Pierre Amoreau que acabou conhecendo a razão através de um de seus distribuidores do Japão (a vinícola exporta cerca de 80% da produção). A primeira medida foi suspender a venda daquela safra e reservar o estoque (1200 garrafas) para ser vendido em pequenos lotes e liberados em grandes intervalos de tempo, ou em unidades individuais na própria vinícola. O vinho não era famoso como seus vizinhos de Saint-Emilion (Château Cheval Blanc) e do Pomerol (Petrus) e nem se comparava a eles pelo preço já que era vendido por aproximadamente 15 euros tendo sido aumentado para modestos 18 euros. Curioso que a safra de 2003 nem foi muito boa pelo excesso de calor. O fato é que logo após o programa o vinho chegou a ser negociado a 1.000 euros a garrafa por especuladores tal a repercussão mundial alcançada.
CHÂTEAU LE PUY 2006
Vinho orgânico e biodinâmico elaborado com Merlot (85%), Cabernet Franc (14%) e Carmenère (1%). Teor alcoólico de 12,5%. O tratamento dado segue as normas gerais da vinícola acima descrita.
ANÁLISE VISUAL – Brilhante cor vermelho-rubi pura como a pedra preciosa.
ANÁLISE OLFATIVA – Irradia frutado copioso marcado por frutas vermelhas e pretas com destaque para cassis, cereja, e delicada geleia de amoras. No correr da prova nota-se a presença de notas herbáceas, de couro e sutil defumado. Vez por outra o olfato é presenteado com cativante “sous bois”.
ANÁLISE GUSTATIVA – Esbanja elegância em meio à complexa estrutura com taninos resolvidos não agressivos além de alegre e refrescante acidez. A textura é cremosa condicionando o que se pode chamar de vinho saboroso amplo e generoso. Final de boca sedutor de frutas confeitadas convidando a uma infindável continuação da prova.

AVALIAÇÃO: 93/100
PREÇO: R$ 249,00 – IMPORTADORA: WORLD WINE – 3315-7477
Saúde!
Daniel Pinto – danipin@uol.com.br

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