Quando se fala em África do Sul, logo vem à mente a presença de grandes espaços ocupados por florestas e estepes povoadas de tribos primitivas cercadas de grandes paquidermes e ferozes leões. Provavelmente se encontre situação como essa, porém a outra característica sempre omitida é a presença de um grande e progressista país dotado de moderna estrutura com cidades dignas de figurarem no rol das grandes cidades do mundo. Talvez o que seja verdade é a possibilidade de se encontrar ali um verdadeiro paraíso que mistura com elegância e estilo as emoções de uma aventura em ambiente selvagem e o conforto hodierno de uma bela metrópole.
Dobrando o Cabo da Boa Esperança, e, deixando a vista alcançar a belíssima paisagem da África do Sul, onde a Cidade do Cabo resplandece em seu extremo sul, é difícil fazer idéia de que ali foi virada galhardamente, uma página da história do vinho.
Tudo começou à época dos descobrimentos, quando os europeus, dominando a navegação, buscaram terras além-mar, a fim de as incorporarem a seus países, iniciando um processo de colonização que viria a constituir importante passagem da história da humanidade.
Foi assim que navegadores holandeses aportaram nas terras do Cabo da Boa Esperança, por volta de 1655, e entre outras atividades inauguraram a produção de vinhos com castas viníferas levadas pelo médico Jan Van Riebeck. O início foi tímido, mas o suficiente para lançar a semente que viria a desenvolver uma primeira safra por volta de 1659. A posição geográfica favorecia o incremento de produção já que praticamente servia de reabastecimento dos navios que dobravam o cabo, em direção a outros pagos, pois constituía parada quase que obrigatória de todas as rotas, principalmente o caminho para as Índias em busca de especiarias e pedras preciosas. Esses fatos tornavam a África do Sul um ponto de referência com aporte de conhecimentos e atividades principalmente no campo da agricultura incluindo obviamente a viticultura. Mercê dessas circunstâncias o país absorveu com tal propriedade esses conhecimentos que na sua aplicação viria a alcançar posição de destaque no futuro tornando-se um dos pioneiros do Novo Mundo na área correspondente à produção de vinho.
Por volta de 1688, aportaram na Cidade do Cabo, duas centenas de franceses, protestantes (huguenotes), foragidos de perseguição religiosa. Levavam na bagagem além da cultura religiosa, um grande conhecimento da arte de fazer vinhos, que logo puseram à prova no novo continente. Com certeza esse fato foi tão relevante que acabou gerando o nome de uma das mais importantes regiões vinícolas da África do Sul, qual seja FRANSCHHOEK, que significa “esquina dos franceses”.
Do esforço laborioso do início da atividade nasceu um vinho primoroso que viria ganhar fama e prestígio mundial além de se tornar a marca registrada da África do Sul: o “VIN DE CONSTANCE”, legendário vinho doce que se tornou famoso e venerado pelas cortes européias, em cuja literatura foi elogiosamente mencionado.
A produção desse vinho a partir da cepa Muscat revestiu-se como marco inaugural da vinícola CASA KLEIN CONSTANTIA e por extensão, a região vinícola CONSTANCIA. Esse vinho atravessou praticamente duzentos anos de fama indiscutível, até ser também “engolido” junto de seus pares pela “phylloxera vastratix”, praga que destruiu a maior parte dos vinhedos do mundo em sua marcha arrasadora a partir das décadas finais do século XIX.
Nessa ocasião a presença de Simon Van Der Stel, governante famoso acabou emprestando o nome a uma cidade e também região produtora das mais famosas, STELLENBOSCH.
BELLEVUE WINE STATE – STELLENBOSCH
A história dessa vinícola tem seu início quando aporta na Cidade do Cabo em 1691, o navio Oosterrteyn de companhia de navegação holandesa contando como artilheiro Philip Morkel cidadão nascido em Hamburgo que na estada já se encantou com o lugar, contraindo inclusive matrimonio com uma mulher que viria a falecer precocemente. Um ano depois, desvinculado das funções, volta para a África do Sul como civil aí se casando pela segunda vez com Catharina Philip Pasman, em 1713 iniciando atividade profissional ligada à pecuária na região de Stellenbosch. Na descendência que se seguiu, em 1861 Dirkie Cloete Morkel inicia a viticultura associada à pecuária de ovinos e bovinos. Mais tarde no ano de 1900 assume seu filho Pieter Cloete Morkel ,conhecido como PK dando grande incremento à atividade que acabou por ser consolidada em 1943 pelo filho Dirkie Morkel com ampliação dos negócios tanto no campo do cultivo como na parte laboratorial e de vinificação modernizando a vinícola e a conduzindo como viticultor e enólogo.
A Bellevue Wine Estate cultiva 192 hectares de vinhedos, produzinto cerca de meio milhão de litros de vinho por ano além de fornecer uvas de qualidade para outros produtores. Nesse contexto sua linha de vinhos abrange aqueles produzidos com Pinotage, Cabernet Sauvignon, Malbec, Petit Verdot, Cabernet Franc, Merlot, Sauvignon Blanc, etc. Entre os vinhos mais destacados estão o PK Morkel, Atticus (Cabernet Sauvignon, Pinotage e Malbec) e Tumara (Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Franc e Malbec).
PK MORKEL PINOTAGE 2004
Produzido a partir de vinhedos de 14 a 54 anos, com rendimento de 5 toneladas por hectare. Alcança grau alcoólico de 14,5 % e com pH de 3,64. Açúcar residual, 3,4 g/litro. Passa por maceração pré-fermentativa por 6 horas e fermentação a 26º C por 4 dias. Sofre fermentação maloláctica. O estágio em madeira consta de 24 meses em carvalho francês de primeiro uso.
ANÁLISE VISUAL – Vermelho rubi escuro com discreto halo de evolução.
ANÁLISE OLFATI VA – Aroma intenso e selvagem típico da Pinotage. Irradia boa carga de especiarias, acompanhada de fruta madura coberta por defumado. Notas de café e chocolate se revezam no decorrer da prova.
ANÁLISE GUSTATIVA – Encorpado, balsâmico, taninos finos e boa acidez. A característica exótica se repete na boca, com presença de ervas e fruta muito madura, num final longo com sensação de chocolate escuro.
AVALIAÇÃO: 90/100
PREÇO: R$ 120,00 – IMPORTADORA TAHAA – 5096-3282
Saúde!
Daniel Pinto – danipin@uol.com.br