Por Sergio Bonachela
No último dia 15/1 a confraria Saboresdebacco realizou a sua primeira degustação de 2015. Considerando o calor deste verão, o tema escolhido envolvia vinhos brancos, no caso, Sauvignon Blanc da Nova Zelândia. Trata-se da casta que chamou a atenção do mundo para a produção vinícola da Nova Zelândia a partir dos anos 70, com vinhos frutados e intensos.
Foi assim a impressão deixada por essa degustação, que teve lugar no Restaurante Santo Colomba, do Chef Alencar. Vinhos exuberantes e refrescantes, sem perder a elegância. Muita fruta madura, especialmente maracujá, limão e lichia, boa acidez e mineralidade.
A classificação final não trouxe muitas surpresas. O que surpreendeu foi uma certa repetição dos rótulos escolhidos, incomum na confraria. Dos dez vinhos da degustação, quatro rótulos se repetiram. Em dois casos a repetição aconteceu com safras diferentes; em outros dois, os vinhos eram (ou deveriam ser) idênticos.
Mesmo assim o painel foi bem representativo da produção neo-zelandesa de Sauvignon Blanc. As três principais regiões daquele país estavam presentes: Marlborough (Ilha Sul, pioneira nos Sauvignons Blanc de alta qualidade), Martinborough (Ilha Norte) e Hawke’s Bay (Ilha Norte, segunda maior região vinícola do país). Estiveram presentes produtores de prestígio, como a Cloudy Bay (pertencente ao grupo LVMH), a Framingham, a Craggy Range e a Te Mata. O coordenador incluiu também um “coringa”, um vinho de outra região, justamente um Sancerre, do Vale do Loire, local de origem da Sauvignon Blanc, segundo os especialistas.
As safras foram bem variadas, havendo representantes de todas elas entre 2008 e 2014. O fato de o campeão ter sido da safra mais recente do painel não pareceu indicar uma tendência, porque os dois vinhos mais antigos, os Framingham 2008, também foram muito bem (2º e 4º lugares). Com exceção do Sancerre e dos dois exemplares da Te Mata, todos os outros sete vinhos do painel usavam tampa de rosca (screw cap), muito usado na Nova Zelândia e Austrália, até mesmo para vinhos que podem ser guardados por alguns anos.
O campeão da degustação, o Cloudy Bay Sauvignon Blanc 2014, é rico em aromas de frutas cítricas, boca muito mineral e acidez elevada, com um final harmônico e bastante persistente. Um vinho muito redondo que não passa por madeira, embora seja bem estilo novo mundo, isto é, intenso, macio, pronto para o consumo.
Foi interessante também a comparação com o Sancerre, o mais típico Sauvignon Blanc.
O exemplar incluído na degustação destacava-se pela elegância e pelo aroma adocicado, remetendo a compota. No entanto, mais uma vez se comprovou que, em degustações às cegas, os vinhos mais exuberantes se saem melhor. O Sancerre ficou no último lugar na preferência dos confrades.
Segue a classificação da degustação:
1º) Cloudy Bay SB, Cloudy Bay, Marlborough, 2014, 13,5%;
2º) Framingham SB, Framingham, Marlborough, 2008, 13%;
3º) Vicar’s Choice SB, St. Claire Family Estate, Marlborough, 2013, 13%;
4º) Framingham SB, Framingham, Marlborough, 2008, 13%;
5º) Cape Crest, Te Mata, Hawke’s Bay, 2011, 13%;
6º) Cape Crest, Te Mata, Hawke’s Bay, 2011, 13%;
7º) Vicar’s Choice SB, St. Claire Family Estate, Marlborough, 2012;
8º) Te Muna Road Vineyard SB, Craggy Range, Martinborough, 2010;
9º) Te Muna Road Vineyard SB, Craggy Range, Martinborough, 2009, 13,5%;
10º) Generation Dix-Neuf, Alphonse Mellot, Appellation Sancerre Côntrollée, 2012, 13% (coringa).
Servido após a degustação, o jantar foi um belo exemplo de harmonização com a Sauvignon Blanc, incluindo carpaccio de salmão, trenette de camarão e bottarga e arroz de frutos do mar. Os elogios foram uma unanimidade.