Por Rodrigo Mammana
Depois de um longo período de estagnação e superprodução, pode-se dizer que hoje em dia a Sicília é uma das regiões mais vitais e aprimoradas da Itália.
A Sicília possui uma variedade de solos e terroir tão grande que poderia ser tratada como um continente, e não uma simples ilha.
O extremo meridional está mais ao sul do que a Tunísia; trata-se da distante ilha de Pantelleria, famosa pelos seus moscatos, estando mais próxima do note da África do que de Palermo. Os ventos provenientes da África ( Sirocco) são muito quentes e influenciam diversas regiões vinícolas da ilha. Metade dos vinhedos da Sicília necessitam de irrigação e a ilha é ideal para a viticultura orgânica. No inverno algumas montanhas do nordeste ficam cobertas de neve.
Em meados da década de 1990, a Sicília competia apenas com a Puglia pelo título de região vinícola mais produtiva da Itália, gerando anualmente mais de 10 milhões de hectolitros de um vinho razoavelmente forte para ser misturado no norte. 10 anos depois a colheita anual ficou em torno de 7 milhões de hectolitros ( muito menos que a produção do Vêneto), produzidos numa área apenas parcialmente reduzida. A qualidade começou a ser uma prioridade.
No século XXI , vinícolas como a Planteta e Tasca de Almerita tomaram a frente nas pesquisas e desenvolvimento de uma vinicultura de qualidade, sendo depois seguidas por diversas outras.
A uva que construiu a reputação da Sicília no exterior é a Nero D’Avola ( Avol fica no sudeste), que produz tintos suntuosos com estrutura e sabor de frutas vermelhas maduras, notadamente na região de Agrigento perto do litoral sul-central e também no extremo oeste. A Nero D’Avola tem dificuldade em amadurecer nas regiões mais altas, porém alguns produtores do norte vem obtendo sucesso utilizando a Syrah e Merlot no corte.
Uma casta de grande potencial para vinhos tintos é a Nerello Mascalese, tradicionalmente cultivada nas encostas do Etna em até 1000 metros de altitude. A Nerello Mascalese resulta em vinhos muito finos e elegantes, comparada por alguns com a Pinot Noir. A variedade Frappato com suas claras notas de cerejas, é utilizada em blends com ela na denominação Cerasuolo di Vittoria.
A Catarrato foi por muito tempo a uva branca mais usada no oeste, e hoje em dia se encontra vinhos interessantes feitos com ela e sua parceira Inzolia ( Ansonica da Toscana). A Grecanico também pode fazer um delicioso branco e tem ganho terreno nos últimos anos. A variedade Grillo, tradicionalmente utilizada nos Marsalla, vem apresentando excelentes exemplares de vinhos brancos secos. Alguns produtores do Etna têm conseguido demonstrar que sua casta Carricante, cujos vinhos possuem a maior acidez da ilha, pode envelhecer com qualidade por 10 anos.
A Moscato é mais promissora das uvas brancas. A Planeta recuperou o Moscato di Noto quase esquecido, e Nino Pupillo fez o mesmo com o Moscato di Siracuso – ambos são elaborados com a Moscato Bianco, mas em regiões distintas. Os Moscatos sicilianos mais conhecidos fora da ilha são elaborados com a Moscato de Alexandria, frequentemente chamada de Zibbibo aqui. Cultivada na Ilha de Pantelleria, sudoeste da ilha, produz o famoso Moscato di Pantelleria. Nas ilhas Eólicas, no entanto, os vinhos doces são elaborados com a Malvasia, resultando em vinhos com notas de laranjas. O melhor exemplo de Malvasia dele Lipari é produzido pela Barone di Villagrande.
As cooperativas são ainda extremamente importantes na Sicília, e frequentemente benevolentes. Settesoli é uma das que, ao lado da Planeta, esforçou-se para importar variedades apropriadas como a Fiano da Campania para sua ilha.
Marsala, como uma primo distante do Xerez, é famoso desde os tempos do Almirante Nelson, que o utilizou para fortificar a marinha real. Durante a maior parte do século XX , o Marasala pareceu destinado ao esquecimento, mas Buffa demnstra uma fé renovada nesse vinho, Pellegrino persiste com habilidade, e De Bartoli está mostrando novos sinais de vida, mesmo se evitando a DOC ,e todas as regras que a acompanham, para seus melhores vinhos, como Vecchio Samperi Riserva 30 Anni e Vigna La Miccia.
Referência: Atlas Mundial do Vinho – Hugh Johnson & Jancis Robinson